Dia desses encontrei, por acaso, casal de bons amigos, desses que a gente passa anos sem ver, mas quando se encontra o papo rola solto, como se a convivência fosse cotidiana. Ela, artista plástica reconhecida, ele ilustrador de mão-cheia, autor de vários livros. O casal vive numa gostosa casa em condomínio, morada não muito ampla embora cheia de janelas, sem granfinismos e frescuras arquitetônicas, já meio precisando de reforma no telhado e troca da fiação, mas com o luxo de árvores e canteiros de ervas – e a família, ali, disputa espaço com o atelier dos artistas. Casal assim, que vive o presente intensamente sem se lamuriar pelo futuro que acaba chegando, já chegou, cria os filhos pro mundo, não no sentido da frase feita, cria gente que em vez de ficar se martirizando com os famosos "viver de quê?", "fazer o quê?", se perguntam perguntas bem mais difíceis e necessárias: "viver pra quê? "fazer pra quê?". O mais velho, mestre nos malabares, partiu para uma escola de circo em Bruxelas e está encantado pela possibilidade de ter à disposição 7 orientadores diferentes para montar um único número, um orientador para o corpo e o movimento, outro para a cenografia e os adereços, um terceiro para as técnicas multimídia e por aí vai. O rapaz já se arranjou com uma dançarina finlandesa, está feliz da vida. Claro que o filho caçula, acrobata, decidiu ir pelo mesmo caminho, se ficasse por aqui teria que aprender sobre a arte de sobreviver equilibrando na corda bamba, os saltos mortais no lado mais civilizado do mundo têm pouso mais seguro. Meus amigos estão orgulhosos dos rebentos, claro, mas não escondem certa dor no coração, por que os filhos precisam viver assim pra tão longe? E estão se decidindo, eles também, a cruzar o oceano, assim ficam mais perto dos filhotes e, quem sabe, conseguem dar mais algum salto na difícil carreira. Minha amiga explica que está cada vez mais difícil viver de arte no Brasil, as contas a pagar têm data marcada, as vendas ocorrem sabe Deus quando. E me diz: "a coisa tá tão preta que até pra xingar sou realista: "vá pra puta que me pariu", ou "vá tomar no meu cu".
10 comentários:
E eu que achava que era cético e autocrítico...
RM
LUCIANA!!!!!
Voltaste!
Naveguei muito em várias praias e hoje nem sei porque cargas d'água vim parar aqui. Me deu vontade de ir comentando todos os textos sobretudo a sua receita de prazer feminino. Sem dúvida a gente sempre aprende alguma coisa útil aqui. E vejo que tem gente nova nessa praia, Maria Luiza, Amélie, tou gostando da nova onda... Embora RM continue sendo o mais assíduo, o cara concorre comigo em presença no verbo! Sobre seus amigos do texto de hoje, diga a eles que vou adotar o "vai pra puta que ME pariu". Um abraço,
Rafael
Pô cara, ainda bem que você não adotou a outra frase: ia pegar mal...
RM
Qualé, cara!
Reconhecer assim em público que a puta ME pariu já é barra, mas adotar o tomar no MEU cu é nunca!
É dureza isso na hora de educar os filhos. A gente quer que eles sejam felizes mas no fundo torce pra que decidam ser médicos ou o que for que renda um dinheirinho no futuro. Meu filhote adora música, todo mundo acha lindo, eu acho lindo, mas no fundo tenho certo medinho de que ele queira ser um músico nessa vida e se ferre lá na frente. Melhor ir mesmo pra Bruxelas.
Cláudia
RAFAEL!!!!!
Que bom que você voltou também! Não tinha a menor idéia de como achá-lo. Volte sempre, com seu humor mordaz.
Cláudia!
Olha, como mãe até entendo isso, ficamos loucas pra ver os rebentos sobrevivendo sozinhos. Você, pelo que sei, tem filho ainda pequeno, né? E eu, que tenho 3 marmanjos ainda meio dependentes da gente? Mas veja que seu filho pode ser um músico bem sucedido e feliz ou um médico medíocre e estressado, tendo infarto aos 40. Viver "prá quê?" é a pergunta que essa turma se faz, ainda bem! Pra ser feliz, é a resposta. Claro que juntar a fome com a vontade de comer é preciso: fazer o que gosta e viver com dignidade. Mas se fizerem o que não gostam a vida já será indigna, né?
Dê todos os instrumentos que puder ao seu filho, todas as chances, os melhores professores, leve o menino aos grandes shows, compre milhares de CDs, invista no gosto do seu filho. O mínimo que pode ocorrer é ele ser, no futuro, um médico brilhante que, ainda por cima, adora música!
Beijão!!!
É Luciana, sensatos são esses seus amigos... estou pensando seriamente em tomar esse caminho também.
Cláudia (segundo nome) Lins, também vou responder ao "correio sentimental", só prá irritar a titular do blog:
Querida consulente, claro está que desta vez madame Lu errou feio, seu filho certamente já passou dessa fase e deve ser, hoje, um teenager às portas do vestibular. Daí a preocupação da mãe. Não daria tempo de tomar as providências recomendadas por madame, isto se já não as tivesse tomado, o que também parece claro.
Bom, como qualquer mãe (ou pai, de bom senso) o que se deseja mesmo é que sejam os filhos felizes, independentes da profissão ou de outras circunstâncias da vida. Mas sabe-se também da importância das outras circunstâncias da vida.
Se você sente (e esse vocábulo tem um significado preciso para o coração materno) que é esta profissão que fará feliz seu filho, invista pesado, mas cobre dobrado. Se estiver ao seu alcance garanta o melhor apoio, para os melhores cursos, nas melhores universidades. Mas cobre as melhores notas, o melhor desempenho.
Bem, isto é válido para para qualquer profissão escolhida, mas nesse caso é importante para que ele tenha maiores chances, melhores oportunidades, estritamente profissionais.
Agora se você o obrigar (claro que não é o seu caso) a estudar medicina (outra profissão que requer pendor), tendo ele alma de músico, corre o risco de formar um médico reles e sem gosto musical.
RM
ha!ha!ha!
Calma, gente, meu filho tem apenas 12 anos!
Luciana e RM estão dizendo a mesma coisa,mudando a ordem das palavras, cês combinaram é?
Claro que vou deixar e já deixo o meu filho fazer o que deixar mais feliz. Mas como os amigos da Luciana aí no texto, tenho a impressão que eu acabe levando meu filho pros caminhos mais artísticos, que são mais difíceis. Mas sempre existe Bruxelas!
ha! ha!
Beijos
Pô Cláudia, então você devia ter avisado... Nessa idade o menino precisa é jogar futebol, manda ele sair do piano...
RM
PS: também tenho um pirralho de onze anos; muito bonito e muito inteligente, você acredita? Quer dizer, puxou do pai só o branco dos olhos...
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