Ai que inveja – e como dizia uma antiga cozinheira da família pra afastar o mau olhado, “a inveja é branca, viu?” – do Drummond, não apenas pela qualidade de gênio do nosso poeta maior, qualidade que pouquíssimos vão alcançar e, como não serei um deles, não me aflige tanto, mas pela disciplina e capacidade de escrever, e bem, e todos os dias, fazendo da palavra bem mais que ofício. Quem tem um ofício sabe como é importante sempre estudar, sempre experimentar, sempre fazer, para adquirir a prática – e o gênio de Drummond era não deixar que a prática, a facilidade para escrever, suplantasse o mais difícil: as idéias, as experiências – suplantasse a palavra. Explicando de outra maneira, vamos lembrar a melhor definição do político Tancredo Neves, feita pelo combativo jornalista Cláudio Abramo: “Tancredo tinha grande facilidade pra falar, falava muito bem, mas não dizia nada.” Com as letras escritas acontece a mesma coisa, alguns têm facilidade para a escrita, mas sair juntando palavras, conhecer as regras da gramática e ter um vocabulário razoável para formar frases e parágrafos não é garantia de que exista ali alguma mensagem que valha a pena ser lida. Escrever diariamente num blog nos expõe a essa questão, acredito que ninguém monta um blog pra tentar chegar perto de Drummond, seguramente esse não é o melhor caminho, e embora escrever todos os dias num blog nos leve a certa prática, nos leva também à questão: será que interessa a alguém? Sempre teremos os amigos, que por delicadeza ou curiosidade vão passar por aqui de quando em vez, os que gostam de fazer comentários, e também os chatos de plantão que, pelo menos, ajudam a aumentar a sensação de que alguém se diverte por aqui, de alguma maneira. Esclareço, pois, e a pedido, minhas pretensões com este blog: entender um pouco mais a ferramenta, exercitar o ofício da escrita – já que não pretendo fazer da palavra mais do que um ofício – e me expor cadinho mais. Como vêem, as pretensões são ambiciosas, fazer o quê?