22.10.07

Fui nesse domingo, havia apenas seis pessoas na sala de cinema – sinal de que a febre começa a passar. O que achei? Que fizeram muito barulho por nada, como quem procura cabelo em ovo. Estão lá todos os elementos que fazem um bom filme, o roteiro é muito bem amarrado, a narrativa tem ritmo, a fotografia é impecável, a trilha sonora é marcante, a montagem é excelente, os atores, todos, estão ótimos. A realidade nua e crua da guerra urbana no Rio de Janeiro é narrada na primeira pessoa, é um certo capitão militar de elite quem expõe seu ponto de vista, claro que o homem tem muita merda na cabeça, não se poderia esperar diferente, o filme deixa claro como se fabricam homens assim. O sujeito haverá de ter mentalidade curta e será capaz de apontar os maconheiros universitários como responsáveis pelo tráfico de drogas – num raciocínio tão rasteiro quanto culpar o aidético pela própria doença porque transou sem camisinha – e como se o crime organizado não pudesse encontrar rapidinho outra coisa tão lucrativa quanto, como por exemplo o tráfico de armas, na hipótese absurda de todos os consumidores de classe média e alta largarem repentinamente o vício. Mais um ponto pro roteiro na construção do personagem. Para os que dizem que o filme é coisa de fascista, Arthur Xexéo lembra que seria o mesmo que considerar Francis Ford Coppola mafioso porque imortalizou o Poderoso Chefão. O filme é necessário e oportuno por colocar o dedo na ferida e detonar, sem meias medidas, a Polícia Militar – incluindo o BOPE. Mas a classe mérdia, fã de Duro de Matar e apavorada com a violência urbana, não entendeu o filme – a maioria confunde argumento com ideologia, protagonista com herói e acredita que assistiu a uma apologia da manjada política do paredon. Jornalistas, articulistas, blogueiros e até professores mantém aceso o debate, enquanto o público consome como água plásticos com o símbolo da caveira cravada pela espada, os camelôs cariocas faturam alto vendendo bonequinhos do capitão com metralhadora em punho, um ator aproveita a onda para abrir badalado bar em Sampa e uma banda de rock encontra finalmente espaço nas rádios depois da sorte de ter a música escolhida para a abertura do filme. O diretor José Padilha, que já foi chamado de radical de esquerda depois de Ônibus 174, se diverte com a pseudo polêmica de agora, dizendo que em breve precisaremos de cinema com bula: “O Ministério da Cultura adverte: violência e tortura fazem mal à saúde”.

PS: MR e RM planejam debate sobre o filme. Melhor ir ao cinema.

8 comentários:

Ricardo Rayol disse...

e vivas e láureas ao ilusionismo midiático oportunista.

Anônimo disse...

Haha, adorei o "elogio"... se me sobrar um tempinho (o bicho tá pegando) volto aqui prá comentar o post "irado" da garota "ixperta" (by MR).

Abraço, RM

Anônimo disse...

Ei dona Luciana, mas que humor de segunda-feira, heim gatinha? Lá vão os comments:

1) Pouco barulho prá nada, nada. Compraram foi espaço prá danar na mídia, sem falar nos otários que fazem publicidade de graça...

2) Permita discordar (apesar de eu não entender nada de cinema): não achei que tecnicamente o filme é tão bom assim; o roteiro (ou estória) é de uma complexidade infanto-juvenil e os personagens, em alguns casos, quase caricaturas - sem falar no protagonista, no que tem, e não é pouco, de inverossímil. Noutras palavras acho que a realidade é bem pior...

3) Acho que você pega pesado demais com as "técnicas e treinamento" desses grupos de elite. A rigor existem no mundo inteiro, como forças policiais e militares (ou de "inteligência") especiais e as técnicas são aquelas mesmo. Absurdo de fato é ainda existir polícia militar, herança e rebotalho do último período ditatorial no Brasil. O que deve espantar é que todos os outros policiais, também são "adestrados" com filosofia militar, organizam-se (batalhões) como força militar e cumprem mal o papel de polícia.

4) À linhagem do filme (e o agrado do público), agregaria o desejo incontrolável de matar de Bronson, a pelo menos charmosa sujeira do Harry "Sujo" de Eastwood e a mais nova versão, "24 Horas", de um ator que não me recordo o nome.

5) As críticas à esquerda confesso que não li, já perdi essa paciência há muito tempo...

6) No mais a senhora está prenhe (rs) de razão: o filme está sendo "mal interpretado", é mais crítica que defesa. Nesse aspecto eu iria além, creio que houve uma tentativa de apropriação (nesse caso indébita) do filme por parte de setores mais à direita da opinião pública.

Um abraço prá senhora, RM

Anônimo disse...

Olha, Luciana e RM:
Acho que todo esse barulho é apenas porque tudo o que diz respeito ao eixo Rio-São Paulo ganha importância demais. O Rio pensa que é o umbigo do mundo! rs rs rs.
Aí foi o marketing que criou tanto o sucesso quanto a "polêmica" entre a esquerda e a direita. Vou decepcionar todo mundo, porque eu não gostei do filme, achei muito hollywood de pobre, serve apenas para ser o concorrente do Rio no Oscar.

Rafael

PS: estou achando ótimo esse negócio de comentar sobre o dito cujo sem dar o nome ha ha ha

Anônimo disse...

hahaha! Oi rapazes!

1 - Rayol, realmente trata-se de oportunismo midiático.

2 - RM, tá bom, muito barulho por QUASE nada. Não me expressei bem, queria apenas dizer que a polêmica esquerda x direita em torno desse tema é absolutamente estéril e infantil. Lembrei de meu filho, quando pequeno. Passou por uma fase em que precisava perguntar, o tempo todo: "mas esse é do bem ou é do mal?". Isso pra tudo, desenho animado, notícia, amigos, cachorro passando na rua etc. É a mesma coisa infantil: o "capitão é do bem ou é do mal?" rs rs rs
Não peguei pesado nada, é sempre a mesma fórmula para se fabricar esses macacos de farda... É assim no mundo todo e sempre com o mesmo resultado, não lembra o que se passou naquela prisão americana em Bagdá?
Concordo plenamente: o populaxo (by Henfil) não entendeu, porque só tem cabeça pra filme na linha 24 horas e outras besteiras made in USA. E trata-se sem dúvida, de apropriação indébita.

3 - Rafael, você pegou pesado! O filme é bom, sim. Tudo bem que não figura entre os 10,20,50, 100(?) melhores, mas é bom. O problema (talvez do RM também) é que vc foi assistir com a expectativa lá em cima, não? Como não se fala de outra coisa, o filme TEM que ser genial, é imperativo. Não é genial, mas é um bom filme - inda mais nos padrões do cinema brasileiro. E concordo: deve ser o indicado brasileiro ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Mas o que mais me chamou a atenção no seu comment: de onde você é?

Beijão

Anônimo disse...

Não sou do Rio...

Anônimo disse...

E pelo tom da sacanagem só pode ser de Sampa...rsrs

RM

Marcos Rocha disse...

Luciana:
Como fiz referência a você e a este post e como lhe informei em e-mail, estou contestando a sua argumentação com as seguintes palavras:

"Portanto esta tese é primária e não resiste ao menor argumento, e é similar à que foi usada pela blogueira Luciana G. (www.verbofeminino.blogspot.com) , que tenta livrar a cara dos estudantes universitários e dos jovens que consomem drogas com esta linha de raciocínio bastante superficial (no trecho destacado): "A realidade nua e crua da guerra urbana no Rio de Janeiro é narrada na primeira pessoa, é um certo capitão militar de elite quem expõe seu ponto de vista, claro que o homem tem muita merda na cabeça, não se poderia esperar diferente, o filme deixa claro como se fabricam homens assim. O sujeito haverá de ter mentalidade curta e será capaz de apontar os maconheiros universitários como responsáveis pelo tráfico de drogas – num raciocínio tão rasteiro quanto culpar o aidético pela própria doença porque transou sem camisinha – e como se o crime organizado não pudesse encontrar rapidinho outra coisa tão lucrativa quanto, como por exemplo o tráfico de armas, na hipótese absurda de todos os consumidores de classe média e alta largarem repentinamente o vício".
Ela, a blogueira e amiga, deve ter utilizado a mesma bola de cristal do Gilberto Dimenstein para visualizar organizações criminosas vendendo armas "door-to-door", como o fazem as vendedoras da Avon ou da Natura, caso ninguém fumasse maconha ou cheirasse cocaína. Quanto aos que pegam AIDS por não usarem camisinha, a sua isenção aos contaminados da responsabilidade pelo surgimento da doença é mais frágil ainda, porque todos sabem que transar sem camisinha nos dias atuais é igual brincar de roleta russa".

Abraços do

MR
24/10 - 11:30