24.10.07

Os filmes do cabo se repetem ad infinitum, mês a mês, e como salva-se 1 título entre centenas, vê-los aos pedaços no zapping do controle remoto não traz prejuízo algum, pelo contrário, é possível formar uma esclarecedora colcha de retalhos da produção cinematográfica atual. E nos divertimos desvendando as regras da indústria do cinema. Surge o rosto de determinado ator e imediatamente sabemos se o filme é “de ação” ou uma “comédia romântica”, por exemplo. E é muito fácil prever os detalhes de todo o roteiro apenas pela análise do casting, em roliúdi há o casting dos “maus do leste europeu”, os terroristas são sempre os mesmos louros de cabelo comprido e olhar penetrante. Se o herói do filme, qualquer filme, tiver que lutar, será contra um do casting “sou forte, mas vou perder”, que reúne os grandões de cachê pequeno que sabem bater mas vão apanhar feio no final, seja em filmes de luta, de guerra, de ação, épicos e até fitas ligeiras para o público teen. Aliás, há dois orientais imensos que se revezam em aparições nos filmes de luta, ora no posto de chefe da Yakuza japonesa, ora na Máfia chinesa, tanto faz, todos tem os olhos puxados mesmo. A lista de casting dos coadjuvantes é tão ou mais esclarecedora quanto a dos protagonistas. Num filme sobre dez pessoas presas numa nave espacial prestes a se defrontar com terríveis alienígenas, precisamos de apenas 2 minutos, em qualquer momento da fita, para saber quem vai morrer primeiro e quais sobreviverão na última cena. Se forem dois os atores pretos entre os coadjuvantes, sabemos que um deles será o primeiro a ter morte terrível, ao outro restarão duas opções: ou será salvo heroicamente pelo protagonista no finzinho, ou terá morte igualmente heróica salvando o (a) mocinho (a). Ah, se houver uma única mulher nesse elenco, ela sobreviverá! Mas, convenhamos, brincar de adivinhar – e sempre acertar – o enredo completo das ficções de 120 minutos da telona que chegam à telinha é um exercício inofensivo. O problema é que adivinhamos, com a mesma facilidade, o que vai se passar nos noticiários da TV. Mesmo descontando-se o aspecto commoditties das notícias – todas iguais como sacas de soja plantadas pelas grandes agências ou por burocráticos jornalistas – também as imagens de destaque, a duração de cada matéria, a paginação delas, a participação de repórteres ao vivo e até os “comentários”, tudo é absolutamente previsível. O Brasil vai se moldando por meias verdades de 30 segundos.

7 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom texto, de novo, moça. Pelo conteúdo do post você pode tomar como elogio o comentário que fiz em e-mail (que a senhora, educadamente, ainda não respondeu -e olhe que até o MR já o fez) sobre a previsibilidade de seus textos.

Abraço, RM
PS: MR tá "babando" prá debater o filmete com a senhora...rsrs

Anônimo disse...

É, a única coisa difícil fica sendo adivinhar o que NÃO é dito...

jholland disse...

Muito bom este texto, que cruza com algumas coisas q andei colocando em Diacrianos.blogspot.com..
Gostei muito do Blog, que pesquei no Blog testa-de-ferro.

Bjs.
José Luiz/jholland

Anônimo disse...

Obrigadíssima pelas visitas, rapazes.

1 - RM, obrigada, mais uma vez, pelo incentivo. Sobre o debate com MR, respondi a ele lá no Plano-Geral...
2 - Rafael, o pior é que dá para imaginar o que NÃO foi dito... Mas cê tem razaão, a capacidade de nos surpreender com a verdade não se esgota.
3 - José Luiz, seja bem-vindo! Vou logo fazer meu papel no mundo dos blogueiros e retribuir sua visita.

Beijos a todos

SM disse...

Não consigo evitar a lembrança da imagem de Dercy Gonçalves soltando uma de suas farpas: "Pra mim é tudo reprise essa p*!". Ahahahahahh

Beijoca

jholland disse...

Obrigado pelo texto do Deleuze, postado em Diacrianos.blogspot !
Se vc não se importa, incluirei esse texto como "postagem", para que sirva de discussão com outros amigos e colaboradores do Blog, interessados em Deleuze...
Bjs !
José Luiz

Anônimo disse...

Se pudesse enviava pra vc a transcrição que tenho da entrevista dele, são 71 páginas de Word, o Abedecário de Deleuze. Copiei trechinho do D, de desejo.
Beijo