12.11.07

BRECHT NA PERIFERIA

Na fachada um enorme banner anuncia “o teatro de Bertolt Brecht em sua comunidade, entrada franca”. Os carros vão estacionando na estreita avenida de periferia, formam uma longa fila prateada, que carro novo é prata, algumas vezes cinza ou preto. Na fila, adivinhamos alguns que parecem ser do bairro, mas a maioria, como nós, pode pagar – reconhecemos dois professores de artes, uns dez atores de grupos diversos e mais uma cambada dos freqüentadores de sempre, moças metilucolamente desalinhadas em suas sandálias rasteirinhas e roupas de cara malha colorida – vi uns cinco vestidos Elvira Matilde, os rapazes de calças largas e sandálias de couro ou tênis. A peça começa às sete da noite, aqui fora o calor é imenso, lá dentro sabemos que será bem pior, o galpão é estreito e baixo, com telhas metálicas. A primeira sacada da noite é boa, entramos e somos servidos por atores travestidos em garçom, vende-se cerveja bem gelada, refrigerantes e salgados, o ambiente logo vira uma balbúrdia, afora o fato de que nos esprememos em estreitas fileiras de cadeiras plásticas. A adaptação do texto de Brecht tem toques ousados, está lá a metalinguagem, uma peça dentro da peça promovendo o devido distanciamento, e a ação salta para um futuro 2020, em que a idade penal baixa para 8 anos e se ergue um muro físico separando o morro da cidade aqui em baixo, a cidade somos nós, a platéia. Mas tudo é muito tosco, dos cenários aos figurinos, os atores são jovens e inexperientes, as atuações desniveladas, há até vozes que por vezes nem se ouve. A platéia é amiga e condescendente e noto que os poucos da comunidade parecem estar gostando de tudo um pouco, afinal as cenas e as falas são familiares, o teatro é didático ou não seria Brecht. Quando a peça termina estamos instalados em uma mesa do bar cenográfico – confesso que resisti a aceitar a troca de lugar depois do curto intervalo, minha timidez me deixa em pânico de ser arrastada à força para a cena, mas a amiga atriz garante que posso ficar sossegada. A peça chega ao fim toscamente como começou, estou louca de vontade de ir ao banheiro, não vejo nenhum, são nove da noite e tomei já duas cervejas. A platéia aplaude com vontade e de repente acontece – notem que uso o verbo acontecer: “tornar-se realidade, apesar de esforço ou interesse em contrário, por estar além da capacidade de controle ou de previsão, fato inesperado”, ensina o dicionário. Um rapaz se levanta e toma o microfone para contar, entre lágrimas verdadeiras, sobre a morte trágica do irmão assassinado – e de como culpou a mãe por não ser coragem. Baixa o pano.
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Sexta-feira conheci novos velhos amigos. Bom demais. Beijos pra Madame Sô, RM e MR.

12 comentários:

Anônimo disse...

Ei, Luciana!

Pelo que vejo você, RM e MR se encontraram pessoalmente?
Conte pra gente como foi!!

Beijos,
Cláudia

Marcos Rocha disse...

LG:

Xô ver se entendi direito (sou meio leso, de vez em quando): o que aconteceu? Fez na calçola? Ora, isso acontece nas melhores famílias!
Também não gosto de me tornar parte forçada nessas peças de teatro que exploram apelativamente a participação dos espectadores.
Eu pago para assistir, não para dar canja ou virar motivo de chacota, como acontece freqüentemente com os incautos que se dispõem.
Se for preciso, quebro o pau com o ator, se ele forçar a barra. Já me aconteceu antes. E saí no meio da peça, protestando em altos brados.
Obrigado pelas referências simpáticas lá no PG e aqui.
Abração!

MR
12/11 - 11:12

Anônimo disse...

ha ha ha

Fomos assistir porque o grupo é de gente amiga, promessa é dívida.
A montagem foi bem tosca, mas depois percebi que até a linguagem tosca ajudou.
Se eu gosto de teatro tosco? Não, morro de preguiça.
Se valeu a pena ir? Sim, por ter prestigiado gente que está na batalha há tanto tempo, com a melhor das intenções. E por ter presenciado um momento de pura emoção - o didatismo serviu, ao que parece.
Ficou marcado pra sempre na minha memória? Provavelmente não, semana que vem já esqueci...

Beijim

Anônimo disse...

Pô, ninguém vai entregar a Sô (by LG, não tenho nada a ver com isso, viu Sô?), não?

A resistente feminista precisou ser rebocada prá casa... tá bom, não vou entregar não.

Melhor faço eu, que nunca fui ao teatro...

Anônimo disse...

Pô, de novo. Ninguém vai fazer o convite "oficial" prá Marilu não? (e reparem que já me jogaram para o "caixa 2").

Caramba, ela tá lá esperando...

Vee disse...

Brecht? homem de olhar lúcido sobre o mundo moderno. Sempre bem vindo, ainda que por detrás de uma "roupagem" tosca.

Claro, além do mais tem a questão que você mencionou: prestigiar amigos envolvidos, dedicados às causas nobres. No final, você metaboliza o que valeu a pena e o restante joga fora ;-)

Lu,
Você certamente já leu por aí o impacto dessa saidela de vocês, né? Só para chover no molhado, e dizer que nós (eu e a Cláudia Lins)ficamos com dor de cotovelo, sim! Mas o MR, muito, pertinentemente, já nos providenciou esparadrapos!

By the way, vide bem o comentário do MR sobre o seu post, é pra ficar com medo dele ou não? rsss

RM,
Pensa que eu não estou percebendo sua apatia? Hã? Tu tem um gênio ruim, Hein? (risos)

Isso tá me cheirando a retaliação!


Beijos!

Anônimo disse...

Oi, Luciana!

Você viu o post da Amélie sobre ciúmes masculino e ciúmes feminino?

Já sei o que pensa o Correio. E o que pensa o Verbo sobre isso?

E que história é essa de todo mundo se encontrar e ninguém me chamar? Tô com ciúme não, tô com ciúme não...

Beijo

Ps: teatro vagabundo eu passo.

mlupedrosa disse...

Uai gente, que farra é essa? Tô me sentindo racha em festa gay! Quero um esparadrapo também... hehehe

Lu, essas coisas de prestigiar amigos vive me metendo em frias; um dia te conto uma delas! De agora m diante, gelada só cerveja!

Bjks!

Anônimo disse...

Ei, gentes!

RM, não transfere as tarefas pros outros não, sô! Que passa? Cê acha que vai formatar a história e cair fora? nã-nã-nã-nã-não... Vá cuidando dos convites (não esqueça de Madame Sô), dos prazos, dos contratos e, sobretudo das cláusulas importantes! rsrsrs

Não, Amélie, MR não morde não, pode deixar a meda de lado.

Rafael, andaste se metendo em confusão? Cuidado com a Amélie, ela que me ensinou a jogar fora comment inconveniente, lembra? Enquanto vc tá indo, ela foi e voltou. Umas três vezes. rsrsrs

Maria Luiza, conta! Que enrascada que foi?

Anônimo disse...

Pô, pela terceira vez, tudo eu...

Marcos Rocha disse...

Boa, Lu,

Você me ajudou explicando para a Amélie que eu não mordo. Faltou acrescentar, mas isso eu mesmo o farei lá no blog da gata, que não mordo, mesmo, a não ser mordidinhas erótico-sensuais, assim mesmo em circunstâncias, ocasiões e objetos/personas de desejo muito especiais... rs rs rs

Quanto aos blognautas que se sentiram discriminados com o nosso encontro etílico, serão todos convidados para os próximos.

Abração

MR
12/11 - 22:58

mlupedrosa disse...

Lu, a última gelada que entrei foi uma palestra da Herba Life em pleno domingo em um hotel atrás do BH Shopping. Minha amiga entrou nessa e precisava vender uns tais convites pra tal palestra... Fui, sentei no cantinho meio de menesgueio já pensando em um jeito de ir embora. Eu só não contava com alguns leões de chácara na porta de saída com um microfone dizendo: "Gente, ela quer ir embora! O que que a gente diz?" "Fica! Fica! Fica!" Depois do susto, dei uma rosnada pro segurança que chegou à conclusão que era melhor me deixar passar... rsrsrs