7.11.07

EU SOU MEIO NEGUINHA

A escritora Lya Luft, em artigo publicado em junho deste ano – veja bem, li na internet, não na revista – comenta críticas que recebeu de alguns leitores por ter defendido os valores da família. Diz a sábia Luft: “Houve quem dissesse que minha posição naquele artigo é politicamente conservadora demais. Pensei em responder que minha opinião sobre família nada tem a ver com postura política, eu que me considero um animal apolítico no sentido de partido ou de conceitos superados, como ‘a esquerda é inteligente e boa, a direita é grossa e arrogante’. (...) O que tem isso a ver com minha idéia de família? Tem a ver, porque é nela que tudo começa, embora não seja restrito a ela. Pois muito se confunde família frouxa (o que significa sem atenção), descuidada (o que significa sem amor), desorganizada (o que significa aflição estéril) com o politicamente correto. Diga-se de passagem que acho o politicamente correto burro e fascista.” Comecei isso aqui não pra falar de família, embora aproveite para dizer que concordo com Lya Luft, mas para destacar a frase “acho o politicamente correto burro e fascista”, com a qual me identifico plenamente. Visitando um blog amigo fiz um comentário em que usei carinhosamente a palavra “negão”, mas o comentário foi editado e surgiu lá, como se fosse de minha boca – ou de minha pena – a expressão “afro-descendente”. Vou contar uma historinha: tenho um amigo, que o IBGE classifica como negro, mas que tem um tom de pele marrom que denota a mestiçagem típica de todos nós, brasileiros. Esse amigo se destaca no meio musical como genial percussionista pesquisador dos sons dos tambores de Minas e, nos meios “politicamente corretos”, como empreendedor na formação de jovens pobres, sejam eles negros, pardos ou brancos, ainda de acordo com o IBGE. Conversávamos outro dia sobre as aulas com a meninada, quando ele me contou, abre aspas, que quase todos os alunos são pretos, fecha aspas. Alguém na roda de conversa questionou meu negro amigo sobre o fato de ele usar a palavra “preto” para designar seus iguais – ou quase – na cor da pele. Meu amigo achou graça na observação e comentou que, no Brasil, um preto pode chamar outro de preto, mas se um branco – ou quase – usar a mesma palavra, será taxado de “politicamente incorreto”. E completou: “essa história é ridícula, no Brasil você pode falar negro, mas experimente falar negro nos Estados Unidos, será linchado! E agora importaram de lá essa moda imbecil de me chamar de afro-descendente. Quer dizer então que não sou brasileiro igual todo mundo? É a coisa mais racista do mundo, parece que estão querendo me “devolver” para a África! Sou preto, com muito orgulho, e não fico me queixando de ter tanto branco descendente dos colonizadores imperialistas na minha família”. Em respeito a ele, prometi nunca usar “afro-descendente” ao me referir a alguém cadinho mais chocolate que eu, que sou meio neguinha.

22 comentários:

Anônimo disse...

Ei Luciana,

Esse negão a que você se refere não seria o Tizumba, não? Se for saiba que conheço esse crioulo filhote de cruz-credo desde os tempos em que ele tocava seu "gauche" violão em "inferninhos" ali pelas bandas da... deixa prá lá.

Ele não deve mais se lembrar de mim, afinal fez um tremendo (e merecido) sucesso, virou ator, showman... e já se passaram muitos anos, mas cheguei a acompanhá-lo em solinhos de violão. Outra coisa interessante é que o cabloco fazia (acho que ainda faz) outro tremendo sucesso com a mulherada (e eu ficava por perto não era à toa, qualquer coisa, segundão aí... rsrsrs).

Donde se conclui que devia ter razão a dona da voz, Elis, cantando uma inesquecível dos
irmãos Valle: "Black is beautiful..."

Vee disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vee disse...

E viva o tio Sam!!!

Eu, na qualidade de tradutora tenho enorme afinidade com a cultura americana como com a cultura inglesa, mas tudo tem dois pesos e duas medidas.

Daí a aplaudir o comportamento subserviente do brasileiro que tem a necessidade de se comportar como macacos, copiando tudo o que vem de lá, já é demais.

É uma vergonha essa necessidade de eufemizar tudo, essa necessidade do "politicamente correto" que a meu ver só serve para tapar o sol com a peneira, para varrer o que é (in)conveniente pra baixo do tapete. É a fotografia da nossa hipocrisia!

É isso aí, agora a "finesse" no tratamento é a modinha compulsória do momento, e ao meu ver a forma mais sutil de racismo exacerbado!

Eu sou mais o sincero "nega beiçuda" de Montero Lobato.

E como diria o capitão do mato Vinicius de Moraes, poeta e diplomata, o branco mais preto do Brasil na linha direta de Xangô: Saravá!

Anônimo disse...

Gente!!!!

Amélie, sumiu um comentário aí, mas não fui EU!! Mistério, será que fiz alguma bobagem ou será que tem gente mexendo aqui??

RM, não, não é o Tizumba, a quem aliás conheço bastante bem (meu marido fez o cenário da Opereta) e, creio, bem seria capaz do mesmo comentário, né?. É outro fera dos tambores aqui de Minas.

Amélie, 10! Tem mais nada pra ser dito, depois dessa. Mas falando em modismos importados, e o gerundismo? rs rs

Vee disse...

Lu,

Fui eu mesma que exclui o meu próprio comentário. Sim, nós, autores do mesmos, temos essa "regaliazinha", quero dizer, podemos apagar nosso comentário apenas e ao administrador do blog (você mesma) é permitido uma regalia muito maior: apagar o de todos. Ufá! O Rafael que se cuide ;-)

Ah, fica fácil detectar quem apagou o comentário, pois o blogger notifica no próprio espaço para comentários, se ele foi excluído pelo autor do comentário ou pelo administrador do blog. Vice? rsss

Quanto ao gerundismo? Ai, fico em cólicas só de ouvir falar. Que tal você pensar em "estar fazendo" um post pra "estar publicando" num outro momento? Aposto que a gente vai estar rindo muido!

Bjs.

Anônimo disse...

Ei Amélie,

Só quem é blogueiro tem essas regalias ou comentarista pé-de-chinelo, como eu, também pode apagar comentário?

Se puder vou apagar todos os meus...rsrsrs (principalmente esse último; já tenho problema demais prá ter que responder a processo por racismo. E é inafiançável, viu Luciana? Prepare-se para postar via celular da cadeia... rsrsrsrs)

Vee disse...

RM,

Comentarista "fanfarrão" também pode, claro. Principalmente aqueles que vão "espreitar" o blog das vizinhas e sequer dizem: Boa Tarde ;-)


Ciao!

Anônimo disse...

Crime inafiançável ?!?!?!?!
Deixa eu medir bem minhas palavras aqui.
Mas peraí, não são justamente as chamadas minorias (como se a maioria fosse de cor branca) que exigem esse tratamento “politicamente correto”? Parece até manifestação típica da música popular brasileira de afro-descendente portador de doença mental, leia-se samba-do-crioulo-doido.

Rafael

Anônimo disse...

Oi!

Acho que tudo depende de quem fala e de como se fala. Qualquer palavra fora de contexto ou dita com desprezo e raiva pode soar ofensiva.
Mas o pior é a turma da patrulha do politicamente correto. Bom e oportuno tema.

Anônimo disse...

Oi, Luciana!

Hoje eu que vou ser a do contra, não o MR rs rs rs

Olha, acho que é claro que tem exageros mas também acho que as pessoas não prestavam a menor atenção no que falavam, antes dessa história do politicamente correto. As pessoas usavam expressões como negão, crioulo e etc para denegrir mesmo, de uma forma racista. Eu acho que serviu pras pessoas entenderem de uma vez por todas que racismo é crime e dá cadeia. As pessoas, agora, prestam mais atenção.

Um abraço,
Cláudia

Anônimo disse...

Ah não, peraí Claudinha.

Quer dizer que se numa discussão de trânsito, por exemplo, alguém me chamar de brancão roda-dura, eu posso processar o cara por racismo?

Marcos Rocha disse...

Oi, LG e demais blognautas:

Cedo meu lugar de contestador à Claúdia Lins com o maior prazer. Principalmente porque ela é sempre muito simpática em todas as intervenções.
Sobre o post propriamente dito, sou suspeito para falar porque, embora seja branquelo, acho que tenho sangue português. Pois dizem que eles, os portugas, eram também doidinhos pelas donzelas cor de ébano. Daí se explica a enorme e bem-vinda miscigenação brasileira. Sou chegadinho numa moreninha, mulata, roxinha, escurinha, crioulinha, neguinha, pretinha, azulinha, afrobrasileira e demais variações cromáticas ou de nomenclatura inventadas para se definir a tintura da pele que vai do moreno tostado de sol ao breu noite de lua nova. Rs rs rs
A frase da Lya Luft é realmente oportuna.
Abraços

MR
7/11 - 17:48

Anônimo disse...

RM,
Olha, pode sim. Mas o racismo existe quando você está numa situação de minoria e é mal tratado por isso. Então se você estiver num lugar que só tem negros e for xingado por ser branco, isso é racismo sim. Eles podem xingar você de branquelo azedo. Ou de branco leite com soda cáustica rs rs
Marcos, obrigada pela simpatia. Eu já votei lá na sua pesquisa viu?

Anônimo disse...

Ei Claudinha, foi só provocação.

Mas sou obrigado a discordar da super-simpática blognauta do Verbo. É que não creio que dependa de se estar em minoria ou não. Trata-se o racismo de um "sentimento" humano, talvez de todos o mais torpe e abjeto.

Revela, antes de tudo, aversão à diferença, ao diferente de nós mesmos. Aversão e temor, de ser subjugado ou obrigado a rever suas crenças, preconceitos e "verdades". É e sempre foi
instrumento ideológico de dominação, por classes, povos ou países. E não precisa ser preto
ou minoria para sofrê-lo: desde a antiguidade sucessivas "civilizações" fizeram escravos ou vassalos seus diferentes; a história da Europa é a história do racismo.

A ciência já descartou a existência de raças faz muito tempo, apesar de no passado
relativamente recente tê-la chancelado. Mas esta não é uma questão "racional", a não ser
quando usada para fins econômicos...

PS: gostei da sua "discordância"...

SM disse...

Sou da opinião de que é hipocrisia negar o racismo, a discriminação racial e/ou social, bem como todas as outras (e são tantas...). Elas existem e vivem dando provas disso.
Não acho que a palavra "preto" é ofensiva, até porque é o oposto de "branco" e sinônimo de "negro", o que pra mim, realmente não faz a menor diferença. Acho que essa polêmica toda é causada especialmente pelos negros que têm baixa auto-estima. Se o cara não se apega a pensamentos pequenos como "Do que será que estão me rotulando agora?" ou "O que será que esse branco quis dizer com isso?", etc., ele não vai dar a mínima para a forma como é chamado.
NATURALMENTE existem maneiras e maneiras de se falar ou de se tratar alguém. Vai depender da entonação, do contexto, enfim.
Tá cheio de branquelo racista que é "embutido" e fica ofendendo os outros alegando que "é brincadeira!". É nada! Alguns são mesmo racistas, mas gostam de fingir que não são.
Mas, como disse, não considero ofensa tratar um "afro-descendente" de "preto" ou "negão". "Afro-descendentes" somos todos nós. Já foi provado que o ser humano surgiu na África.
O povo tem que parar com essa bobagem de raça... A única que conheço é a HUMANA.

Bjos a todos

Ricardo Rayol disse...

primeiro, deveria ter citado que fui eu que editei, não teria nenhum problema

segundo, não gosto da palavra negão,

terceiro, a edição não distorceu o sentido do seu comentário, não entendi por que ficou ofendida.

por ultimo, me reservo o direito de editar ou deletar os comentários que me parecem ofensivos, mesmo que sejam bem humorados.

Anônimo disse...

Opa!!

Cheguei gorinha! Assustada com (será que é nóia?) um certo incômodo do Rayol com o texto de hoje, vou fazer o comment dos comments de baixo pra cima, tá?

Rayol,
primeiro, não citei que foi você quem fez a troca de "negão" por "afro-descentende" porque não tinha a menor importância para o contexto - desse texto;
segundo, gosto é gosto e não se explica, mas não discutimos uma simples questão de gosto aqui;
terceiro, fiquei ofendida nada, moço! Achei foi muito engraçado, porque nunca saí usando "afro-descendente" nas minhas conversas, expressão que aliás acho que ninguém usa num papo na mesa de bar, né? Imagine um grupo de rapazes vendo passar a Camila Pitanga em pessoa e dizendo:"nossa, cês viram que afro-descendente gostosa passou ali?" rs rs rs;
quarto, é óbvio que o direito é todo seu, de editar o que quiser, como é meu também o de não editar niente, adoro diversidade de opinião;
por último, a discussão é boa e tem que ser encarada de frente, sim. Porque a questão verdadeira é a do verdadeiro racismo: será que a troca de palavras suprime o ódio racial e o preconceito? Eu, particularmente, não creio. Não creio que tu crês também. Pelo contrário, o racismo pode se mascarar atrás de posturas "politicamente corretas", posturas impostas, estudadas, que não vêm do coração, como bem lembrou o RM.

SM,
estás coberta de razão! E esta foi a motivação deste texto. Discutir se a substituição de palavras para atender às pressões da patrulha do politicamente correto resolve o problema. Tenho certeza que eu, ou você, falando um "preto" para um amigo preto ofende nada. Mas um "afro-descentente" dito entre dentes, com um esgar de riso irônico, pode ofender, e muito, né?

RM,
esta é que é a verdadeira questão: em nome das diferenças étnicas, da intolerância, do preconceito e do ódio racial o mundo vai se matando. A história da Europa, você lembra bem, é a história do racismo. E isso não está nos livros de história. Isso ocorre hoje, now!

MR,
Você e mais 50 milhões são chegados numa neguinha rs rs. Sorte minha que, como já disse, sou meio neguinha.

Cláudia,
É isso aí, depende do contexto, depende da intenção. E de boas intenções o inferno está cheio, né? Quantos escondem, atrás da boa intenção das expressões "politicamente corretas", seus preconceitos e suas intolerâncias?

Fernando,
Não é Henrique, né? Cardoso???.. Bem-vindo! Sem dúvida, tudo depende do contexto. Da maneira de dizer. Vale sentir ódio pela diferença, mas se expressar de acordo com as normas da patrulha? Não cremos, né?

Rafael,
Você é mesmo uma gracinha...

Amélie,
Que sorte que uma blogueira experiente, que mexe com esse troço a milênios, está aqui pra nos instruir!! rs rs rs. Já fiquei achando que um hacker poderoso tinha entrado aqui e estava brincando de apagar! rs rs
Também não tenho dúvidas: trata-se de mais um modismo importado. O que é bom para os EUA é, ainda e infelizmente, bom para o Brasil. Neguinho copia sem pensar, nem se preocupa em entender como e de onde surgiu aquilo e, finalmente, incorpora aquilo como regra. Vou estar pensando em estar fazendo um texto apenas para estar usando o gerúndio...

mlupedrosa disse...

Ei Lu!!!

O "trem" tá quente por aqui mesmo, hein? A começar pelo layout, adorei quando vi/entendi a foto! Parabéns pelos tantos posts, eu entendo essa dificuldade de atualizar sempre, escrever sempre... por falar nisso, essa semana tenho que matar um leão com uma espingardinha de chumbinho, aí vc pode imaginar o quanto estou fudida... rsrsrs

Sobre pretos e brancos, se essa moda pega, a Preta Gil mudará seu nome para Negra Gil...

bjo grande!

APPedrosa disse...

Eu simplesmente não suporto essa "patrulha do bem", do politicamente correto, essa ditadura do quê pode e do quê não pode. As palavras, as formas de tratamento, tudo depende da circunstância, de quem fala, com quem fala, enfim, do bom senso.

Ana Paula

APPedrosa disse...

Eu simplesmente não suporto essa "patrulha do bem", do politicamente correto, essa ditadura do quê pode e do quê não pode. As palavras, as formas de tratamento, tudo depende da circunstância, de quem fala, com quem fala, enfim, do bom senso.

Ana Paula

Anônimo disse...

Olha a família Pedrosa aí!!!

Que bom, sumidas!

Marilu, que tal afro-brasileira Gil?

Ana Paula,
num sei o que acontece por aqui que volta e meia um publica os comments duas vezes... rsrsrs
Realmente qualquer patrulha deve ser defenestrada, não? (Nossa, que palavrão que desencavei...)

Ricardo Rayol disse...

O uso ou não da expressão e seu respectivo cunho racista não é relevante. O fato de eu ter editado sim. Fi-lo por que qui-lo e não irei estender o assunto além do necessário. Se não ficou ofendida ótimo.