22.11.07

MULHERES NA FEIRA

Saio do trabalho geralmente às 9 da noite, pouco antes, pouco depois. Não reclamo, pois tenho as manhãs livres e como 9 ainda é cedo pra noite, posso sair com certa freqüência, sem neurose de levantar cedo no dia seguinte. Como sou do tipo notívaga, dessas que pensa melhor com as estrelas e lê numa boa até deitada na cama – maridão morre de inveja, nunca passa de dois parágrafos – o horário de trabalho é bem conveniente pra mim. Mas que é bom, vez ou outra, se ver livre, leve e solta antes do sol de por, lá isso é! Que fiz eu hoje? Depois do feriado lá no curso, quase deu pra tirar um cochilo, resolvi ir até a Feira Internacional de Artesanato. São não sei quantos quilômetros de fileiras de barraquinhas, em corredores estreitos, de A a Z. Quase tudo já se viu por aí, nem tudo é feito à mão e os preços também não são de feira, mas o espaço estava lotado. Batendo perna pra baixo e pra cima, o que mais ouvia era conversa de desencontrados ao celular: “cê tá na letra B? Nas almofadas do Egito? Estou na letra M, em frente aos bordados do Ceará”. Aí reparei: 9 entre 10 andantes eram mulheres! De todos os tipos, tamanhos, cores e idades, sozinhas ou acompanhadas... de outras mulheres. Com sacolas, muitas sacolas. Fui ficando antenada, já contei aqui que gosto de gente e gosto de ouvir pedaços de conversas alheias. Algumas tentavam, como eu, adiantar as compras de Natal, “isso aqui será que tem a cara da Maria?”, mas a maioria estava mesmo exercitando uma faceta bem feminina, “nossa, adorei isso, vou levar” – mulher não resiste ao anúncio de uma pechincha, placa de bazar então, atrai igual ímã! Minha objetividade só me atrapalha nessa hora, ando a passos largos no meio da balbúrdia, se vejo alguma coisa que serve pra presentear alguém, pego e pago pra me ver logo livre da confusão. Até pra comprar roupa, enquanto a mulherada enfrenta a fila de um improvisado provador ou resolve por o vestido sobre a calça mesmo, checo o tamanho com uma olhada de 30 segundos e gasto outros 30 pra decidir. E passo ao largo do “artesanato curioso” e de gosto duvidoso, é o que mais tem ali, bonequinhas feitas de bucha, ovos de avestruz pintados de dourado, estranhas árvores feitas de cupinzeiro, muitas, muitas flores artificiais. Num canto, nossos índios com o artesanato típico, muita coisa realmente linda, mas tudo amontoado, mulheres e crianças de cocar dançando à sua volta, impossível ver com calma, corri logo dali. A mulherada passando com mais sacolas e eu pensando: "que se passa comigo, não vim aqui pra fazer compras?" Só aí me toquei: mulher compra bem exatamente quando não tem obrigação alguma de comprar, compra por puro prazer. Olhei e estava em frente à barraca do Kênia. Molia, uma negra gorda, idade entre 50 e 70 anos, sozinha no centro da grande barraca, não se entendia com a clientela. Mas nos comunicamos bem em inglês e acabei até ajudando a fazer as contas de alguns fregueses. Saí feliz da vida levando pra casa uma pernalta girafa, grandes talheres de madeira com motivo de zebra e um lindo móbile com “reis africanos” que, Molia explicou, captam os fluidos negativos do ambiente, se balançarem demais em dia sem vento é bom ficar alerta!

4 comentários:

Anônimo disse...

Faço bem o estilo maridão, no que respeita a essas incursões consumistas das mulheres: tô fora!

Marcos Rocha disse...

Oi, LG:

Mais uma vez, também nessa área, estou fora dos padrões do macho latino-americano. Eu adoro artesanato de boa qualidade, sempre que posso também compro. E, por onde passo, tento conhecer o trabalho dos artesãos. Minas tem uma tradição maravilhosa, nessa área.
Pena que não possa voltar à terrinha nesses próximos dias, senão também iria fazer a festa.

Abração,

MR
23/11 - 11:12

Anônimo disse...

Adoro as tais feirinhas de artesanato... nem sou tão consumista hoje em dia (mas já fui rs)... Gosto de passar pelos corredores e imaginar quem fez, a região de onde veio.. enfim me transporto!
Óbvio que também encontramos alguns "importados" da 25 misturados (como em todo comércio atualmente)... Mas, mesmo assim é um passeio que me agrada.
Acho que estou precisando de férias urgente!!! rs
bjo

Walter Carrilho disse...

A turma de Embu-guaçu deve estar puta da vida com a feira. É a globalização dos porta-incensos!