2.12.07

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS

Pela manhã ele era um “pivete”, um “menor infrator”, certamente um “chefe de boca de fumo na favela”, as rádios repetiam a história a cada 20 minutos ou a cada 30, não importa, são as mesmas histórias que se repetem a intervalos, raro haver notícia nova. A da vez era a do “líder do tráfico” que havia sido preso pelos bravos homens da PM. À tarde ele era um “menino” e a história que se repetia no rádio era um pouco diferente, cinco homens da polícia militar tinham prendido um “menino” e barbarizaram o “garoto”, com direito a sevícias sexuais com o cassetete, no melhor estilo BOPE. Não satisfeitos, os PMs levaram o “menino” para a favela e o entregaram nas mãos da gangue rival para novas torturas, desta vez em praça pública. Talvez por pura burrice os policiais deixaram de fazer mais um presunto, em vez de despejar o cadáver em alguma vala, preferiram deixar o jovem de 16 anos na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, com uma explicação bizarra para os hematomas do estropiado: “o elemento se jogou de um barranco, ao tentar evadir-se da polícia” (sic). Escândalo formado, restou ao comando da PM informar que os cinco policiais responderão a inquérito, podemos ficar tranqüilos, mas continuam trabalhando normalmente, fique tranqüilo quem puder. Ah! O comando também alardeia que o jovem em questão tem uma passagem pela polícia, por furto. O que se aprende com o episódio? Pelo menos duas coisas: capitão Nascimento faz mesmo escola. E a imprensa ainda não aprendeu a lição mais primária: apurar os fatos, ouvindo o maior número de lados possíveis, já que é impossível ouvir todos.

8 comentários:

Sig Mundi disse...

O mais triste disso tudo... isso é uma constante e não um fato isolado!
bjs
andrea

Anônimo disse...

É incrível como as pessoas vão mudando, né? Vemos um menino passando frio e fome, chamamos de menino e ficamos comovidos. Vemos o mesmo menino querendo invadir o nosso carro pela janela e chamamos de pivete, com raiva. É a mesma pessoa. Isso que mais me impressionou no seu texto.
Abraço,
Cláudia

Anônimo disse...

Outro na pinta, LG. Cê tá virando especialista.

Mas aqui: cadê os radialistas, jornalestas (rs) e telejornalistas que não aparecem para se defender (ou atacar)? Só tem bundão nessa praia aqui em BH?

Ricardo Rayol disse...

a mídia sempre mete os peés pelas mãos mas não entendi xongas.

Anônimo disse...

Na verdade acho que quem enfiou os pés pelas mãos neste caso foi a polícia... Como sempre defendendo-se de forma ridícula...
Sabemos que os menores infratores abusam da falta de idade pra saírem ilesos, mas isso não justifica o tratamento dado a eles... com abuso de poder e crueldade da polícia.

Marcos Rocha disse...

Oi, LG e confraria:


Deixe-me fazer o contraponto, sem defender tortura ou barbárie.
A PM deveria dar treinamento com relação a legislação e direitos humanos aos policiais e não investe quase nada nisso -- só em técnicas de coerção e de porradas.
Deveria haver uma avaliação permanente e constante, inclusive do ponto de vista psicológico, dos policiais vão para as ruas participar da coerção. Da mesma forma como defendo uma valiação permanente de professores, funionários públicos em geral, etc.
Mas tem o outro lado: a polícia prende (ou apreende, no caso de menores), leva para a escola de marginais que são esses centros do tipo Febem ou Fundação Casa (não sei o nome aí em BH) e daí a poucos dias a Justiça mmanda soltar.
Os pais ou (ir)responsáveis não são responsabilizados em nada.
Daí a poucos dias o moleque está delinqüindo novamente e, com toda certeza, com muito mais violência, já que, agora, ele também quer se vingar.
A verdade é que estamos construindo uma sociedade doente, que mpiora a ada dia, onde os dois lados estão errados -- e as vítimas é que se fodem. Como aconteceu ontem no Rio com o padre que foi atingido por tiros e sua assistente, que levou um balaço na cabeça sem ne saber por quê.

MR
3/12 - 20:03

SM disse...

Sou a favor de punições severas quando se fazem necessárias, mas nunca a favor da tortura. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. É possível punir severamente sem usar de mecanismos de tortura. Se a tortura indiscriminada não ocorresse tanto neste país, talvez nossos métodos coercivos fossem mais eficazes.

Verbo Feminino disse...

É gente, foi apenas mais uma cena neste país, né? Das mais banais.

Claudinha pegou num ponto que eu acho fundamental: nós -- e a imprensa -- vamos virando a casaca ao longo do dia, num momento defendemos os direitos das crianças e adolescentes, no momento seguinte nos solidarizamos com os carrascos, depende se somos nós ou não a vítima da violência, né? Uma hora pivete, outra hora menino.

Não dá para deixar de concordar com o MR quanto ao despreparo das polícias. Qualquer programa anti-violência nesse país vai ter que partir da premissa de transformar o trabalho policial em coisa digna: boa seleção de pessoal, bons salários, bom treinamento, constante reciclagem etc. Será preciso dispensar todo mundo e recrutar novamente...

E certíssima está a Simone: não podemos fingir que a tortura não continua sendo prática constante neste país. E não dá pra achar que é possível combater a violência na base da tortura...