13.6.08

PS à Carta a D.

Fiquei devendo, sei disso. Os que aqui vieram, por pura amizade, entenderam pouco. A culpa, sem dúvida, é da missivista - e pelo simples fato de que os enamorados, entre outras qualidades, ficam assim meio bobos, sem quase nada que dizer, o amor preenche tudo. Hoje me explico, pedindo desde já desculpas se vai parecer aulinha: André Gorz era filósofo, jornalista de mão cheia, considerado uma das referências do movimento de maio de 68. Mais pro fim da vida reviu muitas de suas posições, ganhando (mais) alguns inimigos, inclusive na esquerda. Sei de dois aí que na certa já leram ao menos um de seus livros, ou encontraram uma citação dele em algum rodapé. Teórico da questão social, esse judeu austríaco convertido em francês viveu quase 60 anos com uma mesma mulher, e depois de escrever dezenas de livros, decidiu publicar mais um, o último: uma carta de amor à Dorine. Vou dar a palinha do primeiro parágrafo:

Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa, desejável. Já faz cinqüenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor de seu corpo contra o meu é capaz de preencher.

Um ano depois André Groz e Dorine se mataram, foram encontrados lado a lado na cama, na porta um bilhete avisando pra chamar a polícia. Ela tinha uma doença grave e ele já havia declarado, e em livro!, que não suportaria sobreviver a ela. Pros que já sabiam disso tudo, peço desculpas vez mais pela “aulinha”. Tudo pra dizer que o livro é mais do que belo, é uma aula sobre relações humanas, sobre nossas (in)capacidades e sobre o sentido da vida. Esse eu recomendo aos que têm namorado(a), há pouco ou há muito tempo como eu, e aos que (ainda) não têm.

7 comentários:

Anônimo disse...

Confesso que conhecia o autor.
Confesso que não conhecia essa história.
Confesso que fiquei doido pra ler o livro.
Confesso que gostei da aulinha...

leve solto disse...

Idem idem RM: conhecia o autor, não conhecia a história, fiquei doida pra ler o livro e também gostei da aulinha!

Adorei também o pedacinho do lado esquerdo do blog... com o moçoilo vem free de bunda (e que bunda) de fora!!
Isso mesmo, pq o MR pode e nós não?Colírios....rs

Bjs

Mara

leve solto disse...

Onde se lê "vem" substitua por bem..rs

Marcos Rocha disse...

Olá, LG:

Pelo primeiro parágrafo da carta, dá para se imaginar o que vem depois.
E quase não consigo acreditar que existam sentimentos tão fortes e tão poderosos a ponto de ambos cometerem o suicídio juntos -- mais ainda o dele, que foi por solidariedade a ela e por julgar que não conseguiria viver sem ela.
Não conheço a Carta e vou lê-la, também, em breve.
Bela sugestão de título.

Abração do/

MR
13/6 - 14:43

Marcos Rocha disse...

Esqueci de comentar -- e por isso estou voltando -- que, na mudança de layout do blog, o cabeçalho ficou bem bacana. Já esse black total com as letras aplicadas em negativo, eu, pessoalmente, achei meio, como vou me explicar?,escurinho, rubro-negro demais. Tá parecendo que você é flamenguista ... rs rs rs

Anônimo disse...

hahaha

Prmeiro à Mara: desculpe amiga, ainda não pus lá um comment básico sobre o médico... É que sua deliciosa descrição do affair está quase me inspirando um post.rsrsrs

MR, também não gostei muito do pretão, que em vez de "pretinho básico" tá quase aquela coisa "gótico-deprê", né? Bem diferente de mim... Experiências. Gosto mesmo é do rosão com o mouse, sabia? Vou pensar.

Beijos

leve solto disse...

Eu adoro um neguinho.....rssrs
Adorei o novo lay-out... Gostava do mouse, mas amei o novo banner..
LG, fica tranquila... Sei que suas idéias fervilham...
E aí, tem um médico disponível por aí?? rs