Com a invasão da cultura norte-americana e da língua inglesa em nosso cotidiano, temos a mania de achar que palavras globalizadas como “gay”, por exemplo, tiveram origem nos Estados Unidos ou na Inglaterra. Pois o mais provável é que o termo tenha nascido na França, mais precisamente na Provença, entre os séculos XII e XIV.
Um delicioso artigo do filósofo Edrisi Fernandes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, fornece pistas importantes da influência da cultura dos Trovadores Provençais sobre a apropriação (recente) da palavra gay pelos homossexuais masculinos. Lembra o filósofo que a imagem do guerreiro das invasões bárbaras foi sendo substituída pelo ideal do cavaleiro a serviço da Igreja e das Cruzadas – surgia um novo heroísmo decidido ao martírio. Esse novo herói (e a língua provençal não distingue cavaleiro de cavalheiro) vai se forjando em Trovador – ou aquele que é capaz da verdadeira poesia e cultua a mescla de amor, alegria e juventude. Os Trovadores Provençais e a doutrina do amor cortês culminam na chamada “Gaia Ciência” (Ciência Alegre, ou Ciência da Alegria) em que apenas os “entendidos” são capazes da poesia e de um modo de vida alegre, jovem, culto, amoroso e transformador.
A palavra “gai” tem origem na língua occitana e mais tarde passou ao francês. O sentido original de “gai” é “alegre” e é com esse sentido que a palavra é importada por toda a Europa, amplamente disseminada pelos Trovadores Provençais. Alcançar a condição de “gai” é aspiração própria da cultura trovadoresca: possuir a felicidade terrena, o bem-estar profundo, com a prática da mais fina cortesia.
Bacana, né? O artigo do filósofo Edrisi Fernandes é um dos excelentes textos da revista Bagoas - Estudos Gays, Gêneros e Sexualidades, editada pela UFRN.
Um delicioso artigo do filósofo Edrisi Fernandes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, fornece pistas importantes da influência da cultura dos Trovadores Provençais sobre a apropriação (recente) da palavra gay pelos homossexuais masculinos. Lembra o filósofo que a imagem do guerreiro das invasões bárbaras foi sendo substituída pelo ideal do cavaleiro a serviço da Igreja e das Cruzadas – surgia um novo heroísmo decidido ao martírio. Esse novo herói (e a língua provençal não distingue cavaleiro de cavalheiro) vai se forjando em Trovador – ou aquele que é capaz da verdadeira poesia e cultua a mescla de amor, alegria e juventude. Os Trovadores Provençais e a doutrina do amor cortês culminam na chamada “Gaia Ciência” (Ciência Alegre, ou Ciência da Alegria) em que apenas os “entendidos” são capazes da poesia e de um modo de vida alegre, jovem, culto, amoroso e transformador.
A palavra “gai” tem origem na língua occitana e mais tarde passou ao francês. O sentido original de “gai” é “alegre” e é com esse sentido que a palavra é importada por toda a Europa, amplamente disseminada pelos Trovadores Provençais. Alcançar a condição de “gai” é aspiração própria da cultura trovadoresca: possuir a felicidade terrena, o bem-estar profundo, com a prática da mais fina cortesia.
Bacana, né? O artigo do filósofo Edrisi Fernandes é um dos excelentes textos da revista Bagoas - Estudos Gays, Gêneros e Sexualidades, editada pela UFRN.
15 comentários:
Como diria o nosso amigo Rayol: eu heim, boi?
Blog também é cultura!!!
Super informação LG querida.
Bj
Olá!
Vários historiadores defendem que o nome "Portugal" formou-se pela junção da nomenclatura de duas localidades - "Porto" e "cale", ou seja "Porto" e "Gaia", e a actual cidade de Vila Nova de Gaia, significaria provavelmente "Vila jovem (jovial, nova), por a localidade ter nascido posteriormente à cidade do Porto, na outra margem do Rio Douro.
Muitas outras palavras com raiz em "gai" permanecem na língua portuguesa com esse sentido: são exemplos o substantivo comum e adjectivo "gaiato", que significa respectivamente "rapaz (= jovem) e "alegre, esperto"; e o adjectivo "gaio" que significa "alegre, jovial"; o apelido "Gaioso", que significa "alegre".
Fosse como fosse, o que pretendo destacar é que no século XII a palavra "gai" já se encontrava muito disseminada por toda a Europa, pelo que a sua origem é forçosamente anterior e, com certeza, era usada no império Romano:
O nome "Gaius" era muito comum na Roma antiga e já tinha esse significado de pessoa "alegre" e "jovial". O Latim é a base de todas as línguas românicas, daí não surpreender que o termo "gai" surgisse depois na língua occitana, tal como apareceu na língua portuguesa.
PS.- Aquele que ... cultua a mescla...) parece-me uma conjugação incorrecta do verbo "cultivar". A terceira pessoa do presente do indicativo é "ele cultiva", pelo que ortografia certa seria: "Aquele que... cultiva a mescla...".
Bravo, Mr Almost, sabemos mais ainda sobre as origens gais.... rsrsrs
Mas cultuar e cultivar não são sinônimos. "Que cultua" não é uma conjugação do verbo cultivar, mas do verbo cultuar.
Cultuar quer dizer "prestar culto a". Cultivar quer dizer "dedicar-se a".
Quem cultiva, dedica-se, consagra-se a uma coisa. Quem cultua, presta culto a algo.
O filósofo Edrisi Fernandes certamente se refere a prestar culto mesmo, no caso prestar culto à mescla de amor, alegria e juventude. Como algo ideal.
Adorei sua participação.
Beijos!
LG, a preguiça não existia.. era falta de tempo mesmo! rs
Mas hoje tentei mudar o rumo da prosa...rs
bjs
Mara
Luciana,
Penitencio-me: Você tem toda a razão. Confesso-me ignorante, não conhecia o verbo cultuar.
Viu como dialogar é positivo?
Como você bem disse "gay" é apropriação de uma palavra; De uma palavra milenar com um sentido agradável (alegria, jovialidade, enfim: felicidade).
RM:
Não é bem assim, caboclo... Nesse sentido que você fala, nem cultivo nem cultuo, nem desejo saber nada.
Eu, hein?...
(Afasta de mim esse cálice...)
Mr Almost,
(rindo pra valer...)
ainda bem que você parece concordar que, no caso presente, o verbo que se usa é menos importante que a acção (rs) que se pratica...
Mas as palavras são assim mesmo, "apropriáveis" pelos costumes e pela cultura (os ingleses, grandes piratas no idioma e na vida real que o digam: nada mais românico que esta língua germânica).
E por falar em cultura e culto; se não se usa o verbo cultuar por aí, qual seria o equivalente?
Ah! A palavra "gai" ou "gay" é sintomática da alteração do significado e de sentido que certas palavras sofrem ao longo dos tempos...
Tomemos por exemplo uma outra palavra: "Tratado".
Como se sabe um "Tratado", no sentido político-económico, é essencialmente um acordo ou um convénio subscrito por dois ou mais países (Pode ser também um estudo exaustivo de um campo cientìfico, mas esqueçamos essa acepção).
Quem subscreve os tratados, são os representantes dos países tratantes.
O termo "tratante" era até à idade média a designação de todo aquele que fazia acordos, negociações, intermediações económicas: "Tratante" era o negociante, o contratador, o que vendia no mercado - o comerciante.
Com o decorrer do tempo, a acção dos agentes dessa designação ganhou tal má fama que se ligou à desonestidade e o termo chegou até aos dias de hoje com um significado de que "tratante" é um velhaco, um patife, um indivíduo que vive de enganar outrém, de ludibriar gente incauta: um "tratante" é um vigarista.
Com o incremento das trocas mercantis foi preciso encontrar um termo novo: E assim surgiu a figura do comerciante - aquele que trata de negócios, que trata de acordos mercantis.
É provavelmente por motivos semelhantes que hoje em dia quando nos sentimos joviais e alegres não dizemos que estamos "gays", assim como um comerciante não afirma que é um tratante.
Outra curiosidade: Vejam um excerto da Crónica de D. João II, do cronista Ruy de Pina:
" «Foi el-rei D.João homem de corpo, mais grande que pequeno, mui bem feito e em todos os seus membros mui proporcionado; teve o rosto mais comprido que redondo e de barba em boa conveniência povoado.
Teve os cabelos da cabeça castanhos e corredios e porém em idade de trinta e sete anos na cabeça e na barba era já mui cão, de que se mostrava receber grande contentamento pela muita autoridade que à sua dignidade real suas cãs acrescentavam ; e os olhos de perfeita vista e às vezes mostrava nos brancos deles umas veias e mágoas de sangue, com que nas coisas de sanha, quando era dela tocado, lhe faziam aspecto mui temeroso.
E porém nas coisas de honra, prazer e gasalhado, mui alegre e de mui real e excelente graça; o nariz teve um pouco comprido e derrubado. Era em tudo mui alvo, salvo no rosto, que era corado em boa maneira. E até idade de trinta anos foi mui enxuto das carnes e depois foi nelas mais revolto.
Foi príncipe de maravilhoso engenho e subida agudeza e mui místico para todas as coisas; e a confiança grande que disso tinha muitas vezes lhe fazia confiar mais de seu saber e creu conselhos de outrem menos do que devia.
Foi de mui viva e esperta memória e teve o juízo claro e profundo; e porém suas sentenças e falas que inventava e dizia tinham sempre na invenção mais de verdade, agudeza e autoridade que de doçura nem elegância nas palavras, cuja pronunciação foi vagarosa, entoada algum tanto pelos narizes, que lhe tirava alguma graça..."
Repararam?... Ser careca era ser "cão"?... Hã?... Rsss... Deve ser por isso que as gurias acham o RM um gato... Rsss...
RM,
Aqui não há disso, somos todos aculturais e acultivados.
Ué, ninguém entendeu?!!!
Calvo = cão alvo!
Acuminado, acurado e acutilante comentário, Mr Almost... rsss
Creio, fosse obrigatória a escolha, ficaria com o tratante mesmo, ao menos por enquanto... rsss
É vero que as gurias acham isso de mim? Caramba! E eu aqui, dando a maior bobeira...
Meu Deus, entrei num site acadêmico!!!
Estou de férias, Lu, quero os meninos de volta...
Olha, vamos pensar num bom tema para o próximo congresso em BH?
Inscrições abertas e apresentação de trabalhos: Armazém, falar com Luciana.
Estarei aí, podemos brindar à primavera. Tenho uns papos agendados com o Julio, da Livraria Travessa, para futuras publicações. E você, espero que aceite, ser uma das consultoras, de alma e coração.
Beijos, bom soninho, cultuado, cultivado e feliz...
Oi, Lu:
Passei para bater o ponto.
O tema já foi esgotado antes da minha chegada.
Abraços
MR
4/7 - 00:23
Bjs querida, bom fim de semana. Bem alegre.
Gente do céu!
Realmente, como diz Mara, Blog também é cultura! rsrsrs
Como aprendemos por aqui hoje! rsrs
Eliana, vamos sim nos reunir em agosto, vamos sim nos sentar lá na Travessa: eu, você, RM, Atacadíssima, Mara (pode ir combinando com a Ana Paula, Mara!), MR - deve ter algum motivo pra visitar a terra, não?
Mr Almost, que tal um vôo (esse acento aí vai cair...) pela TAP? Cai direto aqui em BH.
Difusa, topas?
Beijos a todos, adorei!
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