25.11.08

Politicamente correto...




Alguns me perguntaram quando foi que Lya Luft declarou que "o politicamente correto é burro". Reproduzo o texto - na verdade parte do texto -  porque sempre é bom entender o contexto. E reparem que a frase completa é "acho o politicamente correto burro e fascista". O artigo foi publicado na revista Veja, já se vão alguns anos. Mas o tema, e a frase, continuam pertinentes, vale a leitura:






Foi tão grande e variado o número de e-mails, telefonemas e abordagens pessoais que recebi depois de escrever que família deveria ser careta, que resolvi voltar ao assunto, para alegria dos que gostaram e náusea dos que não concordaram ou não entenderam (ai da unanimidade, mãe dos medíocres). Atenção: na minha coluna não usei "careta" como quadrado, estreito, alienado, fiscalizador e moralista, mas humano, aberto, atento, cuidadoso. Obviamente empreguei esse termo de propósito, para enfatizar o que desejava.
Houve quem dissesse que minha posição naquele artigo é politicamente conservadora demais. Pensei em responder que minha opinião sobre família nada tem a ver com postura política, eu que me considero um animal apolítico no sentido de partido ou de conceitos superados, como "a esquerda é inteligente e boa, a direita é grossa e arrogante". Mas, na verdade, tudo o que fazemos, até a forma como nos vestimos e moramos, é altamente político, no sentido amplo de interesse no justo e no bom, e coerência com isso. E assim, sem me pensar de direita ou de esquerda, por ser interessada na minha comunidade, no meu país, no outro em geral, em tudo o que faço e escrevo (também na ficção), mostro que sou pelos desvalidos. Não apenas no sentido econômico, mas emocional e psíquico: os sem auto-estima, sem amor, sem sentido de vida, sem esperança e sem projetos.
O que tem isso a ver com minha idéia de família? Tem a ver, porque é nela que tudo começa, embora não seja restrito a ela. Pois muito se confunde família frouxa (o que significa sem atenção), descuidada (o que significa sem amor), desorganizada (o que significa aflição estéril) com o politicamente correto. Diga-se de passagem, que acho o politicamente correto burro e fascista.
Voltando à família: acredito profundamente que ter filho é ser responsável, que educar filho é observar, apoiar, dar colo de mãe e ombro de pai, quando preciso. E é também deixar aquele ser humano crescer e desabrochar. Não solto, não desorientado e desamparado, mas amado com verdade e sensatez. Respeitado e cuidado, num equilíbrio amoroso dessas duas coisas. Vão me perguntar o que é esse equilíbrio, e terei de responder que cada um sabe o que é, ou sabe qual é seu equilíbrio possível. Quem não souber que não tenha filhos.
Também me perguntaram se nunca se justifica revirar gavetas e mexer em bolsos de adolescentes. Eventualmente, quando há suspeita séria de perigos como drogas, a relação familiar pode virar um campo de graves conflitos, e muita coisa antes impensável passa a se justificar. Deixar inteiramente à vontade um filho com problema de drogas é trágica omissão.
Assim como não considero bons pais ou mães os cobradores ou policialescos, também não acho que os do tipo "amiguinho" sejam muito bons pais. Repito: pais que não sabem onde estão seus filhos de 12 ou 14 anos, que nunca se interessaram pelo que acontece nas festinhas (mesmo infantis), que não conhecem nomes de amigos ou da família com quem seus filhos passam fins de semana (não me refiro a nomes importantes, mas a seres humanos confiáveis), que nada sabem de sua vida escolar, estão sendo tragicamente irresponsáveis. Pais que não arranjam tempo para estar com os filhos, para saber deles, para conversar com eles... Não tenham filhos. Pois, na hora da angústia, não são os amiguinhos que vão orientá-los e ampará-los, mas o pai e a mãe - se tiverem cacife. O que inclui risco, perplexidade, medo, consciência de não sermos infalíveis nem onipotentes.
Perdoem-me os pais que se queixam (são tantos!) de que os filhos são um fardo, de que falta tempo, falta dinheiro, falta paciência e falta entendimento do que se passa - receio que o fardo, o obstáculo e o estorvo a um crescimento saudável dos filhos sejam eles.
Lya Luft

7 comentários:

Roney Maurício disse...

Ei Luciana,
ia escrever no blog compartilhado, mas me pareceu mais adequado fazê-lo aqui.

Começo com uma afirmação que talvez possa ser considerada politicamente incorreta, mas acho esta Lya Luft uma chata de galocha...

Não tenho saco para ler seus textos até o fim porque me dão uma sensação de filme já visto, de dèja vu. E, no entanto, considero esse aspecto até uma vantagem, em relação ao grosso do que se lê por aí, tamanho o fabeapá e o besteirol, que reinam absolutos.

Mas não me encanto nem com o óbvio de suas teses nem com sua escrita correta e elegante.

Quero ser mais claro: tudo o que falou a colunista de VEJA é óbvio, pateticamente óbvio. Qualquer exemplar da espécie homo sapiens sabe ou deveria saber que "ter filho é ser responsável"; que "pais excessivamente policialescos ou amiguinhos, não podem ser bons pais; o mesmo ocorrendo aos que não conhecem os pais dos amigos de seus filhos, não dão carinho o bastante, etc. etc. e o resto todo do texto...

Mas em momento algum ela vai às raízes do problema, às causas da falência do modelo familiar, à desagregação ética das sociedades, ao cada vez menor grau de educação (que deve ser inversamente proporcional ao de escolaridade) e ao, aparentemente irreversível, processo de emburrecimento das pessoas.

Quanto à estupidez do "politicamente correto", não vou gastar meu "verbo", esta cátedra é minha. Você sabe bem o quanto sou cobrado por posições consideradas politicamente incorretas. Ela, como reconhece no próprio texto, só o faz de passagem.

Mas é claro que concordo com o sentido do texto e com a frase. Mas vou além: além de burro e fascista, é CAUSA de vários dos problemas apontados, além de não ter qualquer charme.

Verbo Feminino disse...

hahaha

Visse? Não é o meu verbo que é venenoso. RM é que destila venenos, peçonhas e outras gentilezas....rsrs

Sim, óbvio. Mas estamos precisando nos lembrar do óbvio ululante em muitos aspectos, não acha não?

Lya Luft tem algumas poesias fantásticas, amo aquele livrinho que ela pariu logo após a morte do Hélio Pelegrino.

De mais a mais, é sempre bom lembrar de onde saíram as citações.

Beijo

Marcos Rocha disse...

Olá, LG (titular) e RM (penetrador, como eu):

Devo manifestar minha completa discordância com relação às observações do RM. Não é a primeira vez, nem será a última.

A Lya Luft é uma das melhores cronistas do nosso tempo e tem um texto belíssimo, irretocável. Na imprensa brasileira contemporânea, desconhece texto melhor que o dela e gostaria que o RM citasse pelo menos um dos cronistas atuais na grande mídia, dos quais seja admirador, que chegue ao menos aos pés dela.

Suas posições políticas, embora pareçam ser neutras, são na verdade as de uma pessoa democrata, liberal no melhjor sentido da expressão, equilibrada, que defende as liberdades de uma forma ampla.

E sua afirmação de que o politicamente correto é "burro e fascista" precisa ser amplamente difundida, porque o patrulhamento ideológico comandado pelos petelhos e pela pseudo-esquerda tende a jogar todos os que se opõem a eles na vala comum dos incorretos.

Abraços aos dois.

MR
26/11 - 14:10

Marcos Rocha disse...

Lu G:

Só para complementar a informação que você dá ao LP: a crônica "A Volta da Família Careta" saiu na Veja 2011, data de capa 6/6/2007.

Besos

MR

26.11 - 15:13

Roney Maurício disse...

Ué, discordou do quê, decanão?

Não acho que ela tenha mau texto, não discordo das posições que ela defende e também detesto o politicamente correto.

Só acho que ela é uma chata de galocha. Pode não? rsss

... disse...

Olá, Luciana, gostei de sua visita lá n" O Contrário.
Li umas 3 vezes, contando com a sua postagem, textos da Lya, Não gosto de suas receitas de bolo.
Sobre a família, há quem tenha muitas, casou com várias, vai experimentando, com qual os filhos serão melhores. O melhor seria, já que gosta de casar, deveria gostar de abortar.
O não é não e o sim é sim.
Ƨs.

Verbo Feminino disse...

Sim, Fernando, muito antes pelo contrário! rsrsrs

Não sou fã número um dela, não. Não é meu livro de cabeceira. Mas respeito.

Abraço!