Gosto de gente, tem dos que gostam e dos que não gostam de gente, me enquadro no primeiro tipo, não significa que não tenha também uma certa timidez, uma coisa não anula a outra. E mesmo sendo o que as pessoas chamam de “comunicativa”, minha timidez me leva sempre a aguardar o movimento e a fala do outro antes de começar a tagarelar. Gostando de gente – gostando, portanto, das diferenças, dos sotaques e das variadas possibilidades de inteligência – gosto de me fazer invisível para ouvir as conversas dos outros. Fiquei aliviada em saber que minha bisbilhotice não é só minha e que hábito (vício?) assim pode ser bem útil: de fragmentos de conversas da vida real Almodóvar retira os (in)verossímeis diálogos de sua filmografia. Sentado sozinho em alguma mesa de bar em Madrid, o diretor finge tomar um café enquanto estica os ouvidos para as conversas alheias, sobretudo as das mulheres. Minha bisbilhotice não é tão calculada nem tem objetivo tão nobre, não tem aliás objetivo algum, mas serve para ajudar a compreender como as pessoas vão compreendendo o mundo. Foi assim que me aproximei de um carrinho de pipoca, atraída pela conversa animada entre o velho pipoqueiro e um rapaz cabeludo, calças largas e cuecas à mostra. O pipoqueiro avisava que o espetáculo teatral que começaria logo, logo, em plena quarta-feira às 6 da tarde, era uma bosta: “já assisti, o pessoal me deixa assistir tudo aí nos ensaios no teatro. Rapaz, é ruim demaaaaaaais!”. E o rapaz: “é, mas eles entregam um resumo do texto no final, tá valendo, véio”. Do que falavam? Das montagens oportunistas dos falsos grupos de teatro, que “encenam” os livros do próximo vestibular.
8 comentários:
Tô sentindo falta de título nos seus posts, apesar dos "marcadores" cumprirem, "intermidiaticamente", em parte, a função... rsrs
Prá esse, que tal "O pipoqueiro de Cabul"?
E não precisa ficar brava, porque não é insinuação de você ficar escondidinha debaixo da burca não, viu? rsrs
Perfeito, RM, tens razão.
Aliás, vou parar pra pensar umas modificações em todo o layout, com o que o blogger permitir. Experiências aqui, experiências lá, quem sabe a gente chega a algum lugar? rs rs
Beijão e obrigada!
ha ha ha
Imagine Dom Casmurro no teatro? Capitu com ares de Mônica Veloso e a eterna suspeita: ela deu? Vai dar?
Abraço,
Rafael
Oi, Luciana!
Que coisa, heim? O pior é que muitos desses jovens conseguem passar no vestibular! Chegam lá na base da picaretagem, passam a vida da faculdade fazendo picaretagem, entram no mercado pós-graduados em picaretagem...
Dureza, viu?
Abraço,
Cláudia
Tem disso, é? Não sabia, não! Afe...
Ei, Lu: enquanto lia seu texto me lembrei de dois amigos na casa dos 16 anos que conversavam animadamente enquanto caminhavam no calçadão. Exatamente quando passei por eles ouvi esta pérola: "A véia era mó véia, véio!". E eles riram. Eu também, claro! Aliás, tô rindo até hoje... rs.
Beijoca e bom feriado!
qusiera eu ter esse dom de pescar as coisas. e sou timido.
Eu também adoro fazer isso. E ainda ficar imaginando de onde surgiu a conversa dos outros e para onde ela vai. É um ótimo passatempo.
Ana Paula
ha ha ha
1 - Rafael, fiquei imaginando e rindo sozinha. Imagine o "nível dessas montagens, criadas a toque de caixa pra faturar um troquinho dos apavorados vestibulandos...
2 - Cláudia, cê tem razão. É o mundo dos que procuram um "atalho" o tempo todo na vida. Mas no fim costumam quebrar a cara...
3 - Tavas sumida, Simone! Ri sozinha com a frase que flagraste, ótima!
4 - Rayol, vem não. Tenho certeza de que sua percepção é das mais afiadas. E timidez, como disse, nada tem a ver com isso rs rs
5 - É, Ana Paula, realmente sabia que EU não era a única a bisbilhotar...rs rs Quer coisa mais divertida que ouvir comentário na saída do cinema? Na fila do banheiro da festa? Dá pra fazer um colar de tanta pérola que se recolhe...
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