19.11.07

OS OUTROS NOMES DE MINAS

Roney Maurício estava meio à toa no feriadão e decidiu cumprir uma promessa: depois de inúmeras participações lá no Plano-Geral - sim, o homem não tem blog, mas contribui para a audiência de vários - redigiu um post também para o Verbo. O homem estava meio receoso de contribuir para um site dito "feminino", mas convencido de que este é um espaço que os homens devem penetrar, pôs a mão na massa.

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OS OUTROS NOMES DE MINAS
Em homenagem a uma mineira
nascida em São Paulo
e criada no Rio de Janeiro
“Minas são muitas” e várias. Esta manjadíssima do Rosa só encontra rival à altura quando nos lembramos da voz, algo embargada, de um Tancredo recém eleito, na sacada do Palácio da Liberdade, situado em plena Praça da Liberdade: “Mineiros, o outro nome de Minas é liberdade...”.


Extraída à pena por mestre das letras, Mauro Santayana, a pérola ainda hoje faz arrepiar aqueles que a lêem ou escutam, como quando foi pronunciada, há quase um quarto de século. Pois eu, caros verbonautas, testemunha ocular e auditiva, estava lá. E me arrepiei.

Dona de um “mar de montanhas”, essa terra sem mar também contém mais de 15% das cidades brasileiras, exatos 853 municípios, cada qual com seu nome cheio de significados histórico, geográfico, religioso, político, enfim. Seguindo a linha iniciada por Roberto Pompeu de Toledo (VEJA, 17/10/07) e Marcos Rocha resolvo, bem mais modestamente, prestar homenagem à “arte de nomear povoações” (Toledo, op. cit.), desta feita só cidades de Minas Gerais. Pareceu adequado fazê-lo no Dia da República, ou da “liberdade” (não creiam, mais provável ter sido forma de ocupar o absoluto ócio de véspera de feriado - decretado, por mim mesmo, “feriadão”).

Minas, na qual não poderia faltar, tem também a sua Liberdade, pacata cidadezinha, com pouco mais de 5 mil habitantes (livres, libertos ou liberdenses), perdida ali pelas bocainas do sul do Estado. E outras 852 para todos e os mais variados gostos.

Mas, curioso, há padrões que se repetem. De todos o mais comum são os acidentes geográficos. Desde as cachoeiras: Cachoeira da Prata, Cachoeira de Minas, Cachoeira do Pajeú, Cachoeira Dourada e Carmo da Cachoeira. Os campos: Campo Azul, Campo Belo, Campo do Meio, Campo Florido, Campos Altos, Campos Gerais - e, de lambuja, Campina Verde e Campestre. Os rios, riachos e ribeirões somam 17 nomes, o que gosto mais é simplesmente Sem-Peixe. E divertidos nomes femininos, Rio Casca e Rio Pomba. Fora as vargens, outros 7 nomes de cidades (destaco Varginha, leiam bem). Há também as lagoas (6 nomes) e as riquezas minerais que deram nome ao “conjunto da obra”: Ouro Branco, Ouro Fino, Ouro Preto, Ouro Verde de Minas e ainda Prata, Pratinha, Diamantina, Esmeraldas e uma infinidade de outras pedras preciosas. E as passagens dos caminhos do ouro: Passa Quatro, Passa Tempo, Passa-Vinte e Passabém (nesta eu passo também).

Campeões nesse quesito são, naturalmente, as pedras e montanhas. As pedras: Itabira, Itabirinha de Mantena, Itabirito, Itarambim, Itacarambi, Itaguana, Itaipé, Itajubá, Itamarandiba, Itamarati de Minas, Itambacuri, Itambé de Mato Dentro, Itamagi, Itamonte (bela redundância), Itanhandu, Itanhomi, Itaobim, Itapagipe (não, nada a ver com trilha de jipeiro), Itapecerica, Itapeva, Itatiaiuçu, Itaú de Minas, Itaúna, Itaverava, Pedra Azul, Pedra Bonita, Pedra do Anta, Pedra do Indaiá, Pedra Dourada; e ainda, Pedralva, Pedras de Maria da Cruz e Rochedo de Minas (que é para não restar qualquer dúvida da procedência). E as famosas montanhas de Minas: Montalvânia, Monte Alegre de Minas (será que tem algum monte triste?), Monte Azul, Monte Belo, Monte Carmelo, Monte Formoso, Monte Santo de Minas, Monte Sião, Montes Claros, Morro da Garça, Morro do Pilar, Serra Azul de Minas, Serra da Saudade (lindo nome), Serra do Salitre, Serra dos Aimorés, Serrania, Serranópolis de Minas, Serranos e Serro (uma serra masculina). E, de quebra, Planura.

Há outros temas recorrentes: 14 clérigos (destaco o singelo Padre Pedro), 5 presidentes da república, 4 coronéis e um Guarda-Mor e um punhado de políticos, governadores, prefeitos, “coronéis”, parlamentares - nomes que ninguém mais se lembra a quem pertenceram.

E Minas não é nomeada apenas por “velharia”. São muitas as “novidades”: Nova Belém, Nova Era, Nova Lima (ou New Laima), Nova Módica (imaginem a velha), Nova Ponte, Nova Porteirinha, Nova Resende, Nova Serrana, Nova União (então por que se separaram?), Novo Cruzeiro (procurei, mas não achei “Novo Atlético”), Novo Oriente de Minas, Novorizonte (não confundir com a minha Belo Horizonte) e Vermelho Novo.

Ao lado da natureza íngreme e estonteante está a “nomenclatura” religiosa. Essa motivação responde por mais de uma centena de nomes de cidades mineiras. Só em homenagem à Mãe de Deus são 27. Alguns dos mais bonitos: Conceição dos Ouros, Dores de Campos, Mariana, Maria da Fé, Piedade das Gerais, Virgem da Lapa, Santa Maria do Suaçuí e Senhora dos Remédios.

Santos e santas então, são de dar inveja à Bahia de Todos os Santos: 4 Santa Bárbaras, 6 Santa Ritas, 10 Santanas (a mais curiosa, Santana do Jacaré), 8 Santo Antônios (destaques para Santo Antônio do Grama e Santo Antônio do Rio Abaixo, que deve ter sido vítima de uma moça casadoira não-contemplada com o milagre), 4 São Franciscos, 3 São Geraldos, 5 São Gonçalos, 14 São Joões (campeão da categoria), 9 São Josés, 8 São Sebastiões e ainda Santa Juliana, Santo Hipólito, Santa Margarida e mais um livrinho de “Santo do Dia”.

O tema religioso prevalece também em Coração de Jesus, Espírito Santo do Dourado, Jesuânia, Ladainha, Nazareno, Oratórios, Santa Cruz do Escalvado, Santa Cruz de Minas e por aí vão outras tantas.

Há, finalmente, alguns nomes curiosos e não-categorizáveis. Camacho (que deveria ser uma cidade gaúcha, tchê), Carneirinho, Carrancas, Casa Grande (faltou só a senzala), Chapada Gaúcha (que deve ser próxima de Camacho), Claro dos Poções, Cuparaque, Fama (quem nasce lá está condenado ao sucesso), Fervedouro, Formiga, Japonvan (será alguma colônia japonesa?), Juramento, Luz (certamente uma cidade muito bem iluminada), Maravilhas (assim mesmo, no plural), Ninheira, Paulistas, Pavão (também deve ser terra de gente muito macha), Perdões (que peço aos que nasceram na cidade anterior), Piranguinho (aí não, vão me desculpar, mas esse nome é mesmo altamente suspeito), Tiros (abaixa aí) e uma dupla que só pode ser de vizinhos - Ipanema e Ponto Chique.

O campeoníssimo nesta modalidade é a conhecida cidade de Pintópolis, por motivos obviamente óbvios. Não sei onde fica (nem quero saber), mas certamente não pode ser uma cidade contígua à Virginópolis, sequer vizinha ou da mesma região, por absoluta e completa incoerência.

Vou eleger algumas por razões sentimentais: Cláudio (cidade natal de minha mãe e que até hoje não conheci; a cidade, não a mãe), Ouro Preto (um sonho surrealista plantado no Itacolomi, só rivalizável por Salvador, uma espécie de Ouro Preto com mar) e Diamantina (linda cidade-cenário).

Por fim, escolho o nome mais bonito: é Bonito de Minas, aliás, lindo de Minas.

Roney Maurício

25 comentários:

Marcos Rocha disse...

LG e RM::

Suspeito, por óbvio, como sou para elogiar o texto que é uma excelente decupagem dos nomes de cidades mineiras, protesto veementemente contra a não inclusão, entre os mais belos nomes, de Dores do Indaiá, eleita pelo Roberto Pompeu de Toledo como o mais bonito entre os lindos nomes -- e endossada por mim por razões também sentimentais.
Espero que nosso amigo RM, motivado por essas incursões blogueiras como penetra ou convidado, se anime a criar o seu próprio, independente do blog suruba ou bacanal, cuja criação é, por enquanto, incerta e duvidosa.
Abraços a ambos e parabéns.

MR
19/11 - 10:53

Anônimo disse...

Belo post do seu colaborador assíduo!! rs

bjo

Vee disse...

E por falar em Ouro Preto, Ouro Branco, justiça seja feita. Não é necessário nenhum curso de detetive ou leitura completa da literatura sherlockiana para presumir que o RMau escondia o ouro do bandido. As evidências já eram pontuais nos pitacos aqui e acolá.

Tudo bem que vez em quando ele extrapola, perde o amigo mas não perde a piada e não leva "quase ninguém" a sério, sem contar o agravante que é a negação recorrente do gosto pela "velharia"...(risos)

By the other hand, clap, clap, clap, pelo excelente texto e pela pitada provocativa e bem humorada que só patenteia a sensação de que este mineiro, em especial, tem muito café no bule!

Beijos, meninos.

Anônimo disse...

RM,

Lindo!

Fiquei pensando nos nomes das cidades paulistas também. Por aqui não tem tanta lindeza, mas tem os nomes indígenas que felizmente muitos ficaram até hoje. Araçatuba, Votuporanga, Itupeva, Ubatuba, Taquaritinga, Piratininga, Itapetininga, Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Porangaba, Urupês e tantas outras.

Parabéns pela lembrança!

Anônimo disse...

Pô, RM!

Seu texto é digamos.... Bonito de Minas!!

Mas queria ver um texto mais, digamos... RM!

Medo de arriscar?

Abraço,
Rafael

PS; tô aqui, mas ainda com medo de apanhar... prometo ficar mais velho em breve rsrsrs

APPedrosa disse...

Bonito de Minas... bonita é Minas inteira. Graças a Deus tenho uma profissão (jornalista) que me permite andar por boa parte desses rios, cachoeiras, montanhas, montes, vales, estradas de terra, dias de sol. Cada um com sua beleza, às vezes escancarada, às vezes escondida.

Ana Paula

Anônimo disse...

Caros amigos, alguns virtuais, outros reais, todos verdadeiros, tenho certeza,

Agradeço muito os comentários simpáticos e elogiosos, apesar de ter também certeza de que não os mereço. Já falei por aí, em algum lugar, que não minto na internet (e, raramente, fora dela) - acho mesmo lindas essas montanhas e convido os que ainda não tiveram essa oportunidade, para desfrutar um pouco dessas belezas para os lados de cá (antes que as mineradoras derrubem o que restou... rsrs). E também os que já as conhecem.

Grande abraço a todos, LG em especial, a paulista mais mineira que já conheci (verdadeira bandeirante, rs)
PS: depois mando o dinheirinho que prometi em troca dos comments... rsrsrsrsrsrsrsrsrsrs

Anônimo disse...

Olá, Luciana!

Gostei muito do texto de hoje, não apenas pela qualidade e pelo conteúdo, mas também, e sobretudo, porque traz importante revelação sobre RM, por vezes Roney Maurício.
Vê-se que, como RM, o homem é dado às farpas e à ironia, aliás sempre fina, e mostra certa rapidez no gatilho. Já como Roney Maurício, o homem é capaz de sensibilidade e leveza. Revela, até, certa alma feminina.
Uma mistura que provoca efeito bombástico nas mulheres, que adoram homens meio cafajestes, meio gentileza. Parabéns!

Anna Rachel - Brasília

Lu Carvalho disse...

Adorei o texto, muito legal!

Bjs

SM disse...

Nada como ter uma boa aula de História e Geografia com um professor inteligente e bem-humorado.
Parabéns pelo texto, Roney!

Anônimo disse...

RM,
então tá, depois depositas o valor referente aos comentários, ok?

Visse como seu texto faz sucesso? Deixa a preguiça de lado e manda ver pelo menos uma vez por semana, pode ser?
Fica sendo a "SEGUNDA RM", que tal? Ou "SEGUNDA SEM LEI" rsrsrs

Beijo

Anônimo disse...

Agradeço também aos atrasadinhos (puxa, Anna...) que chegaram depois e fizeram novos elogios generosos.

Grande abraço prá nossa Luciana Gontijo, que além de "abrir" o espaço, abriu também portas e janelas, qual autêntica hospitaleira mineira na qual se transformou esta paulista da gema.

Sem falar na eficiente "assessoria de imprensa", executada pessoalmente por nossa cicerone (é com c ou com s?).

Não posso prometer, querida. Sabes a quantidade de confusões em que me meto, normalmente sem ser solicitado... Quem sabe?



PS: como diz nossa elengantésima blogueira Amélie, onde será mesmo que comprei esse texto, que já começo até a gostar?

Anônimo disse...

Ei!

O anônimo aí de cima sou eu, RM.

Boa noite a todos.

APPedrosa disse...

Ei RM,
obrigada pela visita e pelos elogios no meu blog. Respondi lá as suas dúvidas.
abraços,
Ana Paula

mlupedrosa disse...

RM,
Deixei pra aparecer no final, só pra ver se sentiria falta dos meus comentários invocados... rsrsrsrs

Minha mãe é de uma família de ciganos que se estabeleceu nos grotões de Minas há muitos e muitos anos... sempre gostei da história dela e principalmente dos nomes das cidades por onde passou: Três Barras, Fortuna de Minas e Cachoeira da Prata. Quando criança, gostava de pronunciá-los, e agora, com esse post tão bonito sobre as cidades de Minas, descobri um pouco porque essa sonoridade tanto me encanta.

Desafio/convite para você: pode escrever um texto para o DomCaixote? Tema livre, sem censuras! (Ai que meda dessa última frase...)

Bjo grande!

Anônimo disse...

E eu sou de recusar desafio/convite, Mary?

Bicão e "penetra" (com todo o respeito, não precisa nem falar pro seu namorado campeão de karatê, viu?) do seu jeito que sou?

Já tô até pensando num tema, os jovens e a web, que tal? Me dê só um tempinho porque essa semana o bicho tá pegando...

109? Bom sinal... rsrsrs

Anônimo disse...

"... do seu jeito que sou..."? Num entendi porra nenhuma... rsrs

mlupedrosa disse...

Tô esperando então tio!

Anônimo disse...

Ah! Essa eu quero ver, heim?

Maria Luiza, no dia do post faz favor de avisar todo mundo, ok?

Maria Elisabeth disse...

Com licença Luciana G.
RM me mandou esse link. Vou penetrar para deixar esse comentário e mais tarde volto aqui para visitar o seu espaço com mais calma... já, de relance, me pareceu um lugar muito interessante. Parabéns!
Vamo lá!

Moço.
Tô aqui no Verbo Feminino digerindo o seu "textículo" e precisando ler mais uma vez!!! A primeira leitura me trouxe do fundo do peito uma saudade de Caxambu, Cambuquira, Lambari, São Lourenço, Baependi (escrevi certo?). Visitei muitas vezes essas cidades e já bebi muita muita muita água por lá. Tenho muitas lembranças boas desse belo pedaço de Minas...belo pedaço da minha vida, a minha infância. Nada foi mais telúrico do que as estações de água que fiz por aí. O seu texto é bonito de ler e tem aroma de bom humor misturado com café coado no pano. Essência que me conduz a um lugar de Minas que tem um lugar dentro de mim. Me faz arrepiar gostosamente! Agora entendo de onde vem a sua literatura. Você tem arte, RM!

P.S: A segunda leitura trouxe do fundo da minha memória uma bicicleta que eu tive aí em Minas! A garupa vivia cheia de meninas e meninos mineiros assim como você. Cadê o seu blog, moço bonito de minas? (risos)
Parabéns!

Beth.

Anônimo disse...

Ei Beth,
agradeço a generosidade dos elogios e espero que esse texto, que escrevi pra Luciana, tenha ajudado a responder à pergunta que me fez.

Reitero que acho você muito talentosa com as letras e espero que dê continuidade na sua trajetória em direção ao ofício da escrita.

Anônimo disse...

Estupefante teu texto, estava procurando uma cidade para citá=la em um livro e encontrei várias e com nomes deliciosos de se ler e ouvir. Parabénsssss!!!!! Inclua "Espera Feliz" adorei e adotei este nome da cidade onde ocorre uma ficticia história.
Mais uma vez meus etrnos Parabéns a vc!!!
C.Kaldas

Roney Maurício disse...

Agradeço o generoso comentário, CKaldas.

Criei um blog e estou dando continuidade à "saga" dos nomes de cidades mineiras. Se você desejar acompanhar:

http://erreeme.blogspot.com/2008/11/os-outros-nomes-de-minas-2.html

Junia disse...

Adorei o post! A propósito, conheço Tiros, pertinho daqui, Carmo do Paranaíba. A família do meu avô materno é de lá. E o nome "Tiros" é por isso mesmo: antigamente tudo se resolvia a bala, atualmente também!

Waldevino Braga disse...

Vc so se esqueceu de falar de VIRGOLANDIA, aantigo São Gonçalo do Ramalhete, e antes de virar virgolandia foi so RAMALHETE; e seu mais lindo distrito, DIVINO DO BAMBURRAL, hoje DIVINO DE VIRGOLANDIA.
Uma Abraço e Parabens...